Este assunto não podemos deixar de falar, Violência Obstétrica.

Assuntos dolorosos porem necessários de se dizer, assim refletimos e evoluímos. Quando não falamos sobre o assunto, a informação não chega a quem precisa e assim as pessoas não sabem se passaram pela Violência Obstétrica (VO).

Oficialmente 1 a cada 4 mulheres sofrem de VO, agora imagine as violências não registradas, pois, há muitas pessoas que não sabem o que é Violência Obstétrica… Pode ser instalada desde o gestar, parir e maternar. O luto também se enquadra neste termo e pouco se  fala.

A termo VO para alguns profissionais da saúde, pode ser considerado o termo forte. Em sua maioria ninguém sai de casa, pelo menos na área da saúde, com a ideia de praticar violência, mas se profissional não entender o todo, pode estar praticando VO sem saber. Não há um momento específico para a ação, pois engloba desde da entrada na maternidade, até sua saída com o bebê.

Muitas das vezes a experiência negativa das mulheres está ligada a violência. E por haver pouca informação muitas não sabem que sofreram ou sofrem VO. VO é qualquer ato, procedimento, palavra que possa enlodar a mulher, rebaixa-la. Atos, condutas e procedimentos que desrespeite a mulher: condutas médicas desatualizadas, negligencia, discriminação, condutas excessivas e desnecessárias ou desaconselhadas, por membros da equipe assistencial de atendimento ao parto.

Vamos exemplificar mais: procedimentos dolorosos sem embasamento científico, ou seja, desatualizado.

 Mentir para mulher, sobre a dilatação (menor do que realmente esta), posição do bebê, vai demorar para nascer, está em sofrimento, sem realizar exames confirmatórios da real situação.

O profissional pratica VO por ser  maldoso? Não, ele simplesmente aprende a padronizar para assegurar a segurança de uma técnica especifica, embora parto seja algo individualizado e requer TEMPO.

Tipos de VO e alguns exemplos: física (procedimentos não concedidos), psicológica (disfarçada em forma de carinho, dano emocional como manipular, negar informação), verbal (sempre é psicológica, palavras agressivas de humilhação e ameaças), simbólica (poder da divindade do jaleco branco em relação à vulnerabilidade da mulher, quando é obrigada a fazer o que não quer e o profissional força com o discurso de que sabe mais do que ela), institucional (impedir o direito do acompanhante ou suporte continuo), sexual (ato ou tentativa de ato sexual), episiotomia, amarrar a mulher, exame de toque sem consentimento, ou tudo junto e misturado.

O pior é a mulher achar que tudo isso foi necessário que o vilão da historia é a via de parto, quando na verdade a assistência recebida está inadequada.

A prática de VO quando se estende ao bebê é observado na primeira hora, pode ser marcado com o abandonado, dor pelos procedimentos, distancia materna. Qualquer outra espécie após o nascimento, o bebê (filhote), é acolhido, a mãe fica por perto descansando e amamentado. No entanto, o ser humano… com todas as conexões sentimentais, somado ao neocortex diferenciado dos outros animais, em sua maioria não trata sua própria espécie com humanidade e respeito.

Infelizmente no Brasil querer o parto normal não é suficiente, o simples desejo é mais complexo. O procedimento mais seguro onde “tudo é anestesiado”, é trazido em cirurgia cesariana, vende-se o milagre que tudo resolve por aí, com a cirurgia.

Qual mulher deseja o seguinte cenário? Parto com desconfortos intensos, posição desfavorável, corte na vagina, pressão de alguém empurrando sua barriga, passando horas com ocitocina artificial  e desconforto maior do que o necessário. Ficar em uma sala desconhecida, sem comer ou beber, com seu direito legal ao acompanhante e/ou suporte continuo desrespeitado no parto. Padronizada como “mãezinha”, suas queixas sendo tratadas sem escuta ativa, exames de toque sem justificativa (ou sem consentimento), acelerando o parto, com a frase: se o bebe não nascer em X tempo vai para cesariana, porem sem uma avaliação real do processo.

Você imaginou este parto?

Você gostaria disso?

Você acha que isso é parto humanizado?

Eu imaginei e fugiria deste cenário, o chamado tocofobia. Isso realmente não é parto normal humanizado.

Parto humanizado é assistir ao parto de forma mais humana possível com intervenções justificáveis e realmente necessárias.

Para você se assegurar contra VO o sugiro que anotem 3 informações:

1) Informação: Estudos, quanto mais conhecimento menos caos;

2) Profissionais e instituições com base humanizada: Assim os protocolos tem embasamento em evidências científicas;

Visite a instituição e avalie o que oferece para parto normal (ter o plano de parto facilita suas perguntas)

Há na internet vários modelos de plano de parto onde você pode estudar mais sobre o assunto. 

3) Rede de apoio: Família, Acompanhante ativo, Rodas de gestantes (redes sociais).

Uma gestante que apresenta o plano de parto e faz valer seus direitos tem um tratamento diferenciado, não precisaria, mas funciona assim no atendimento convencional. 

Um item bônus de sugestão, tenha uma Doula, ter um profissional exclusivo, onde seu objetivo é puramente a  experiência de parto positiva da gestante, faz muita diferença no atendimento principalmente hospitalar. Reforçando, a Doula, “não é Nossa Senhora do Parto Normal”, mas contribuirá para sua melhor experiência. 

Ah! Não tenho condições de pagar uma Doula… 

Deixo mais uma informação: as Doulas são os profissionais que mais facilitarão sua vida, revise o valor deste profissional. 

Só ter a vontade do parto normal não é garantia de ser atendida conforme seu desejo, você pode ter uma experiência negativa pelo atendimento e não pela fisiologia do parto normal. 

Se depois de todos estes cuidados você perceber VO, denuncie é a única forma de mudar as condições que você não aceita mais. 

1) Ouvidoria do hospital 

2) Ministério Publico 

3) Disque saúde 136 

4) Central de atendimento a mulher 180 

5) Conselhos de Classe CRM, COREN

6) Processo Judicial, procure um advogado que entende de VO

O interessante é fazer a denúncia em mais um local para suas chances serem mais bem sucedidas.

Não apaga o passado, mas é uma forma de ressignificar sua dor.

Parto deve ser conversado desde a primeira consulta, se isso não acontecer, desconfie. Eu prefiro profissionais honestos que não escondem a prioridade pela cesariana do que os que mentem e depois inventam complicações fictícias para te levar para cirurgia e ainda colocar na sua cabeça que você não foi capaz. Incapaz é o profissional que ainda não entendeu que o parto não é dele.

Vai dar trabalho? Sim, como tudo na vida que não terceirizamos, pois você estará no comando.

Toda mulher merece um tratamento digno e respeitoso durante a gestação, parto e pós parto. Se você quer entender melhor suas opções, marque um horário para individualizar seu atendimento e sua situação.

Força coragem e determinação.

Carinho da  Doula